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DO YOU SPEAK ENGLISH?


Minha mãe, embora tenha pouca escolaridade, sempre me incentivou a estudar. Repetidas vezes ao longo da minha vida disse: "Se quiser ser alguém na vida, tem que estudar". Essa era a sua maneira de me motivar a ser alguém com condições melhores que a dela. Assim, desde cedo, ela me motivou e investiu em meus estudos e, da maneira que era possível, me matriculou em uma escola de inglês. Ao escolher o curso de Secretariado, mais do que nunca, percebi como seria importante falar outra língua, uma vez que minha meta era assessorar executivos de alta direção. Durante minha trajetória, tive muitos gestores que me motivaram e inspiraram a seguir estudando outros idiomas. Assim fiz! Meu primeiro contato com o espanhol foi na faculdade e decidi estudar os dois idiomas: inglês e espanhol. Durante muitos anos me dediquei aos dois idiomas e, embora não utilizasse com frequência no trabalho, sempre gostei de estudar e dedicar tempo ao aprendizado de outras línguas. Não tenho dúvidas que dominar outros idiomas, além de contribuir para a sua carreira, amplia sua vida de mundo. Há muitos anos assessorei um executivo que estranhamente exercia um poder sobre mim e me fazia sentir medo e insegurança na minha atuação como Secretária e como profissional. Por muito tempo eu o culpei pelas grosserias e pela forma ríspida que me tratava; mas hoje, compreendo que toda aquela experiência aconteceu porque havia dentro de mim muitas questões mal resolvidas, o que transformava minha vulnerabilidade em medo e permissão. Por isso, o autoconhecimento é a chave que nos liberta de tantas prisões. Entre muitos fatos ocorridos durante os anos que o assessorei ele adorava rir de mim quando eu falava inglês e por vezes debochava do meu sotaque. Assim, aos poucos, fui me fechando, me sentindo envergonhada e com medo de falar inglês em público. Preferia me calar a ter que receber uma crítica. Sempre que precisava me comunicar, fosse a trabalho ou em viagens de lazer, eu iniciava a conversa pedindo mil desculpas por não falar inglês. Algumas pessoas podem ser demasiadamente cruéis e não fazem ideia do mal e prejuízo que podem causar à outras pessoas. De qualquer forma não compete a mim mudar ninguém, mas sim reconhecer em mim quem eu verdadeiramente sou. Muitos anos se passaram, e agora me encontro vivendo uma experiência internacional, que mais parece uma terapia intensiva. Aos poucos tenho deixado ir muitos medos, inclusive de falar inglês sem me preocupar se a sentença ou gramática está perfeitamente correta. E sabe o que é mais incrível? Está tudo bem, já não perco tempo dando explicações sobre o meu inglês e não sofro quando esqueço uma palavra e preciso exemplificar para me fazer entender. A verdade é que já não me chicoteio como antes. Este final de semana, aproveitei a oportunidade de estar vivendo em Dublin e fui conhecer Bordeaux, uma cidade linda da França. Ao chegar em um café um casal de ingleses, muito gentilmente, me convidou para sentar à mesa com eles. Num primeiro momento me deu frio na barriga, como se visse meu algoz debochando de mim. Pensei em recusar, mas, quando você se reconhece, se respeita e se ama, você sabe acolher e entende o que cada emoção significa. Pedi apenas que me corrigissem, como forma de aprimorar o meu vocabulário. Conversamos cerca de 1h sobre viagens, vinhos, política, lugares e rimos bastante. Ao me despedir a senhora muito amorosamente disse: você fala muito bem inglês, parabéns. E logo pensei: "Ingleses, como sabem ser gentis". Lá estava eu me sabotando, ou melhor, tentando me sabotar, e rapidamente tratei de ressignificar e internalizei um sonoro e amoroso Yes, I speak english. Moral da história: Quando você reconhece o seu valor você não precisa provar nada para ninguém e a opinião do outro, é só a opinião do outro. Texto por Simara Rodrigues

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