Por Simara Rodrigues
É parte da minha rotina acessar diariamente as redes sociais e acompanhar as notícias, tendências e novidades. O que encontro com muita frequência em minha timeline, são pessoas compartilhando suas frustrações e inquietações sobre o mercado de trabalho e principalmente sobre a profissão de Secretariado. Com uma bagagem de quase duas décadas de experiência sinto-me confortável para afirmar que atuar na área de Secretariado sempre foi e será um grande desafio.
Em 1999, quando ingressei no mercado de trabalho, na área de Secretariado, o desafio era atuar em um meio que acreditava na máxima que qualquer indivíduo poderia secretariar, com ou sem a escolaridade devida. Atender telefone e organizar uma agenda era simples e não exigia competência - Assim pensavam as pessoas. Logo, a remuneração acompanhava a crença. Foi uma época que exigiu postura e posicionamento daqueles que buscavam desconstruir tais crenças.
Durante anos a pergunta "precisa de curso superior para ser secretária?" fez parte da minha vida. Nas inúmeras entrevistas que participei sequer o RH e tão pouco os gestores das vagas sabiam o que um profissional de Secretariado fazia. O que por vezes, limitou minhas atribuições como estagiária aos serviços operacionais como, por exemplo, tirar cópias, entregar documentos e comprar o lanche da Secretária "chefe" - cargo que naquela época designava a mais "poderosa" do pool. Poderes esses que nem sempre estavam relacionados à competências e habilidades, mas à atuação como "leão de chácara" - uma figura emblemática digna de filme hollywoodiano.
Outro grande desafio, no início da minha carreira, foi atuar na área como uma estranha no ninho. Ou seja, atuar por paixão, vocação e buscando formação específica. Esse comportamento não fazia parte da realidade de muitos indivíduos daquela época. As pessoas escolhiam secretariar, na maioria dos casos, única e exclusivamente pela remuneração comissionada - No serviço público quem atuava como Secretária (o) era nomeada (o) com um cargo comissionado - ou porque em suas áreas de origem não havia oportunidade. O Secretariado era, em grande parte, a profissão dos desesperados e sem objetivo de carreira. Não sabe o que quer, vai secretariar. Assim era a realidade - velada - do mercado.
"Eu não sou Secretária, eu estou secretária" era a frase mais ouvida nos raros treinamentos e que ecoava pelos corredores e pools de Secretariado ano após ano. Naquela época, uma das poucas pessoas a realizar treinamentos pelo país era Steffi Maerker, que por sua trajetória e relação com o secretariado atuava na capacitação de profissionais da área. Além dela, aconteciam os Congressos promovidos pelas entidades de classe, cujo interesse de alguns participantes dependia da localidade do evento. Ou seja, se fosse no litoral o quórum era garantido. Muitas secretárias que conheci naquela época não estavam preocupadas com desenvolvimento e capacitação e os próprios gestores viam os treinamentos como uma recompensa. Certa vez ouvi um gestor conversando com o responsável pelos treinamentos e de forma debochada disse: "Escolhe um treinamento no litoral assim elas param de reclamar. Secretária não quer saber de treinamento, quer mesmo é viajar".
Capacitação, mentores, treinadores e professores com formação em secretariado não eram abundantes como hoje. Minha professora de Técnicas Secretariais, embora fosse muito gentil, dedicada e atenciosa nunca atuou na prática o que inviabilizada uma troca e intercâmbio de experiências. Era uma época de muita teoria e dúvidas. Aprendi a Secretariar aos trampos e barrancos - cometendo muitos erros. Uma das minhas primeiras supervisoras de estágio me perguntava quase que diariamente o porquê de escolher um curso tão ruim e tão "sem futuro". Secretariar, há duas décadas, era algo tão irrelevante e desnecessário, para o olhar de algumas pessoas, sem visão de futuro, que era inacreditável pessoas como eu se dedicando para tal formação e atuação.
A reflexão de hoje é: Sempre passaremos por desafios e transformações. Isso é cíclico. É claro que não é fácil e é verdade que vivemos um momento de escassez de oportunidades, alto nível de exigência e alta competitividade. E é por essa razão que a profissão de Secretariado continuará atraindo e recompensando aqueles que sabem o que querem e têm o desejo ardente de fazer a diferença. Não há atalhos, é preciso continuar atuando com excelência, vocação, se reinventando e investindo na carreira.
Eu penso que se a minha geração e as anteriores contribuíram para um Secretariado mais participativo, estratégico e atuante, esta geração e as futuras têm total competência e ferramentas necessárias para dar continuidade a este legado. Basta o querer.
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